O que é Mindfulness
Mindfulness é a capacidade de observar atentamente o momento presente, com abertura, sem acrescentar julgamentos ou desejar modificar o que aparece no fluxo da consciência.
A palavra mindfulness tem sido traduzida como Atenção Plena, ou Consciência Plena. Trata-se, portanto, de utilizar continuamente nossa capacidade de atenção. Quando lembramos da atenção, geralmente pensamos naquela que é voltada para fora, para aquilo que nos chega do nosso ambiente, por meio dos órgãos dos sentidos. Esquecemo-nos, frequentemente, de que a atenção pode ser voltada para dentro, para os nossos pensamentos, sentimentos e sensações corporais. E essa atenção é muito importante, porque é por meio dela que podemos regular nossos pensamentos, nossas emoções e nossa conduta. A pesquisa científica tem demonstrado seguidamente a importância de cultivarmos e gerirmos a nossa atenção voluntária, que pode também ser chamada de atenção executiva.
Um aspecto importante a ser considerado, é que a atenção voluntária tende a ser transitória, ou fugaz. Decidimos prestar atenção em algo e conseguimos isso por algum tempo, mas, de repente, nosso foco é desviado por algum estímulo externo, ou nos distraímos com um novo pensamento ou sensação. Por isso, não é fácil prestar atenção continuamente, estando realmente presentes, nos momentos que vivenciamos. Como podemos, então, desenvolver essa capacidade?
Aqui entram as práticas de meditação. A meditação ainda é mal compreendida em nosso meio. Ela é tida como algo esotérico, praticada por monges budistas, sentados no chão com as pernas cruzadas e dedicando-se a manter a mente vazia. Mas, nos últimos anos muitas pesquisas foram feitas sobre a meditação, motivadas pelo interesse criado sobre Mindfulness e seus inúmeros benefícios, e hoje sabemos que as muitas práticas de meditação, no fundo, são formas de treinar a atenção voluntária, ou a atenção executiva. A meditação modifica o cérebro e assim aumenta nossa capacidade de autorregulação. Isso ocorre pelo aumento da nossa capacidade de foco atencional, ao mesmo tempo que são modificadas a regulação emocional - com diminuição do estresse cotidiano - e nossa capacidade de auto-percepção, permitindo mais clareza no processamento cognitivo e nas motivações que guiam a nossa conduta.
Podemos utilizar a meditação, então, como uma maneira de nos tornarmos mais conscientes da nossa presença no mundo. E isso pode ser feito de uma maneira totalmente laica. O budismo e outras religiões (como o hinduísmo, o taoísmo e mesmo o cristianismo) descobriram a utilidade da meditação exatamente para isso: Para fazer com que as pessoas se tornem mais conscientes e mais aptas a seguir os sistemas de valores por elas preconizados. Mas esses valores não precisam ser, necessariamente, religiosos e podem se aplicar a filosofias de vida sem conexão com o contexto religioso. Outro aspecto importante da meditação é que ela produz modificações no cérebro que costumam conduzir a um aumento da sensação subjetiva de bem-estar e tem efeitos positivos nas relações interpessoais.
Resumindo: A atenção plena modifica a estrutura e o funcionamento de nosso cérebro, aumentando nossa capacidade de nos autorregularmos, trazendo mais equilíbrio e tranquilidade ao dia a dia. Podemos conseguir essas modificações por meio de práticas meditativas, ou contemplativas, que podem ser aprendidas e praticadas em um contexto laico.
Vamos examinar uma pouco mais os efeitos da meditação, particularmente a meditação da atenção plena, nos nossos processos neuropsicológicos. Inicialmente, como já vimos, a meditação é um treinamento da atenção voluntária e isso ativa a neuroplasticidade de circuitos nervosos, localizados no lobo frontal, que controlam essa atenção. A atenção voltada para dentro é o principal componente do processo de autorregulação. Com ela, monitoramos o que estamos fazendo, inibimos os estímulos distraidores e impedimos o aparecimento de pensamentos e comportamentos autônomos. Com a prática, aumentamos nossa capacidade de concentração, de manter o foco atencional naquilo que identificamos como realmente importante, sem nos distrairmos com os múltiplos estímulos existentes nesse mundo tecnológico e complexo em que estamos imersos.
A maneira como prestamos atenção durante a meditação, com uma atitude aberta e de relaxamento, produz outras alterações nos circuitos cerebrais e um dos efeitos é uma diminuição da reatividade emocional. Sabemos que a meditação pode alterar a estrutura e o funcionamento da amígdala cerebral, que é responsável pelo desencadeamento das respostas emocionais. Essa alteração promove uma diminuição do estresse cotidiano e permite que nossas respostas emocionais sejam menos impulsivas e automáticas. Há um aumento do equilíbrio emocional.
As modificações cerebrais induzidas pela meditação, particularmente na região pré-frontal, promovem ainda uma mudança na capacidade de autopercepção. Ao meditar, pomos em prática uma metacognição, ou seja, conseguimos observar nossos pensamentos e sentimentos de uma maneira mais objetiva, sem nos identificarmos imediatamente com eles. Há agora uma maior clareza no modo como pensamos e como agimos, o que se reflete na escolha de nossos objetivos. Podemos dizer que ficamos mais conscientes no nosso dia a dia.
É bom lembrar que a maior parte dos nossos processamentos mentais ocorre de forma automática, frequentemente esses processamentos não são conscientes. Com o excesso de informação a que somos submetidos no mundo de hoje, acabamos por funcionar boa parte do tempo no piloto automático, respondendo aos estímulos mais prementes e sem um raciocínio realmente deliberativo. Mindfulness nos ajuda a adquirir as habilidades necessárias para fugirmos do piloto automático e permanecermos realmente presentes nos diversos momentos de nossa existência.
Resumindo: A atenção plena modifica os nossos processamentos neuropsicológicos, por meio de alterações em estruturas e circuitos cerebrais. A capacidade atencional é aumentada, permitindo maior concentração e foco nos eventos e objetivos mais importantes. A regulação emocional é alterada, permitindo uma diminuição do estresse de da impulsividade. Finalmente, ocorre modificação da autopercepção, permitindo maior clareza da forma como pensamos e como agimos, sem sucumbir ao piloto automático, muito comum nos dias que correm.