Saúde, Estresse e a Prática de Mindfulness
Usualmente, nos consideramos seres conscientes e racionais, e nos situamos numa bolha à parte da natureza existente no planeta. No entanto, somos organismos biológicos, sistemas complexos em interação com o ambiente onde o corpo e a mente não são entidades separadas, mas funcionam de forma integrada.
O cérebro tem a função de coordenar as interações entre o corpo e o meio ambiente, visando a sobrevivência do organismo e a preservação da espécie. A imensa maioria dessa coordenação é feita de forma autônoma, ou seja, com processos mentais não conscientes e comportamentos que escapam ao controle voluntário.
A todo momento, ocorre a avaliação: Quais são as necessidades do organismo nesse momento? Quais são as oportunidades disponíveis (alimentação, sexo etc.)? O organismo está em segurança ou existe alguma ameaça? As ameaças são geradoras de estresse, pois perturbam o equilíbrio interno, o equilíbrio homeostático do organismo.
Em condições normais, o cérebro se encarrega de disparar as condutas externas e alterações internas necessárias para superar o estresse e retomar o equilíbrio adequado. Quando ocorrem ameaças constantes ou muito intensas, pode surgir o que chamamos comumente de ESTRESSE, e as respostas desencadeadas, que eram adaptativas, passam agora a ter consequências nefastas na saúde física ou mental que são completamente interligadas, já que não existe separação real entre a mente e o corpo. Quando estamos submetidos ao estresse ocorre um desequilíbrio, ou múltiplos desequilíbrios, com o aparecimento de doenças do corpo e nos processos mentais.
O mundo moderno é muito diferente daquele no qual nossos antepassados evoluíram. Nosso organismo e, naturalmente, o cérebro estão agora submetidos a estímulos e demandas para os quais não há respostas e estratégias estabelecidas e eficientes, como ocorria na maior parte da história de nossa espécie.
Esse mundo tecnológico contém uma quantidade enorme de estressores, com os quais temos que lidar continuamente e que, na maior parte das vezes, nem percebemos que estão presentes e atuando constantemente. Consideramos essa situação como natural, o que não é verdade. O resultado é que estamos submetidos a um estresse sutil, sem nem mesmo nos darmos conta disso. Vale lembrar que no corpo o estresse se manifesta comumente sob a forma de um processo inflamatório de baixa intensidade, que leva, no médio e longo prazo, ao aparecimento da maioria das doenças crônicas que são pervasivas em nossa sociedade.
Alguns exemplos de estressores comuns:
Alimentos superprocessados, com agrotóxicos e aditivos químicos
Ambientes superpopulosos e falta de contato com a natureza.
Poluição ambiental (ar, barulho). Uso de substâncias tóxicas.
Incentivo ao individualismo, à competição e ao consumismo.
Sobrecarga de trabalho, perturbação do sono e desrespeito aos ritmos circadianos.
Excesso de informações, ambientes virtuais tóxicos.
Deveríamos adotar medidas para contornar essa situação e a adoção de um estilo de vida mais saudável é necessária e altamente recomendável. Nesse estilo de vida devem ser incluídas medidas para combater ou evitar o estresse (por exemplo: atividade física, alimentação saudável, contato com a natureza, atenção às emoções positivas, atividades contemplativas etc.).
MINDFULNESS, ou a atenção plena - a prática de prestar atenção ao momento presente de uma forma aberta e acolhedora - tem acumulado evidências de que é realmente efetiva na redução do estresse, com grande repercussão na Saúde como um todo, ou seja, em seus aspectos físicos e mentais.
As evidências dos estudos científicos mostram que a meditação modifica, de fato, o funcionamento do sistema nervoso, ativando e aperfeiçoando a habilidade de atenção voluntária, acompanhada de uma atitude de não julgamento. Uma presença mais ativa e serena pode modificar as respostas automáticas que ocorrem nas situações carregadas de estresse. Adquirimos uma melhor compreensão dessas situações e mais controle sobre as respostas.
Além disso, as pesquisas científicas têm mostrado que mindfulness altera o funcionamento do sistema imunológico e tem influência na expressão gênica, com redução ou reversão dos efeitos desfavoráveis do estresse na fisiologia do organismo.
Embora saibamos que é necessário um estilo de vida mais saudável, usualmente continuamos presos aos nossos velhos hábitos. Para mudá-los é necessário que tenhamos mais controle do próprio comportamento, ou seja, que tenhamos mais habilidade de autorregulação. Ocorre que a atenção plena (mindfulness) tem exatamente essa capacidade de promover a autorregulação e, portanto, pode ser um fator determinante na mudança de hábitos necessária para a adoção de um estilo de vida mais saudável.
Concluindo, a Saúde nos dias que correm está ameaçada principalmente pela prevalência de doenças crônicas, como o diabetes, a obesidade, a aterosclerose, a hipertensão ou o próprio câncer. São doenças que decorrem de um estilo de vida não saudável, onde o estresse tem um papel fundamental no seu aparecimento. Nesse contexto, mindfulness pode ter um papel determinante, contribuindo não só para a diminuição dos aspectos psicológicos e fisiológicos do estresse, mas também para o aumento da capacidade de autorregulação que pode impulsionar a adoção do estilo de vida saudável que é fundamental para a saúde e o bem-estar.